As principais causas do desemprego em Moçambique
- Izequias Rafael Amade
- 10 de ago. de 2019
- 4 min de leitura
Atualizado: 8 de set. de 2019
1. O mito da formação técnico-profissional
Muitos têm a ideia de que a elevada taxa de desemprego em Moçambique tem a ver com a falta de formação técnica dos cidadão, porém, isso não é bem verdade, ou seja, não é necessariamente a causa da elevada taxa de desemprego. Se formos a ver, até os que têm formação sofrem com o problema. Além disso, no passado, os seres humanos não precisavam de formação técnica e mesmo assim trabalhavam. É claro que nos nossos dias com o desenvolvimento científico e tecnológico, existem certas áreas em que a formação técnica é indispensável, mas na maioria dos sectores não é muito necessária.
A causa de desemprego não tem muito a ver com a falta de formação técnica, mas sim com a adopção de ideologias que não se adequam à nossa realidade. Quero com isto dizer, que, o governo, ao tentar solucionar o problema, adopta sistemas que não são apropriados à nossa pátria, tal como limitar-se a incentivar o cidadão a se formar para depois, por si, procurar o trabalho, em vez de organizar um sistema de tarefas que pode colocar a maioria dos cidadãos a trabalhar.
O que o governo tem que fazer, é responder às três perguntas muito conhecidas na economia para combater a escassez, isto é, as perguntas "o que produzir?", "como produzir?" e "para quem produzir?".
O governo tem que definir objectivos, ou seja, tem que que estudar as tarefas nas quais pode se focar para pôr a maioria da população sem formação académica a trabalhar. Nem todos os cidadão têm capacidade ou condições para criar seu próprio trabalho. A área agrícola pode gerar maior empregabilidade com a criação de projectos regionais.
Em suma, em vez de deixar o cidadão por si e esperar que ele traga dinheiro para os cofres do Estado, é o próprio Estado que, após estudar as características da população que possui, tem que definir tarefas e sistemas adequados que possam empregar a maioria.
Por exemplo, os bosquímanos do deserto de Calaári viveram num dos ambientes mais hostis do mundo, onde até os recursos mais básicos quase não existiam. Para a sobrevivência e alimentação suficiente, desenvolveram um sistema de divisão de mão-de-obra baseado no género. As mulheres dedicavam-se à recolha de alimentos, os homens dedicaram-se à caça e os alimentos eram depois partilhados com toda a tribo.
2. Exigência de habilidades que a maioria da população não possui
Também relacionado à aplicação de sistemas que não são apropriados para os Moçambicanos, a exigência de habilidades que a maioria da população não possui por parte das entidades empregadoras, cria barreira no acesso ao emprego. Como consequência, grande parte da população fica sem trabalhar e, por sua vez, o crescimento económico é lento, uma vez que só poucos trabalham.
Quase 40% da população Moçambicana é analfabeta e, entre os alfabetizados, alguns não têm ensino primário completo muito menos uma formação profissional. Logo não é adequado exigir habilidades literárias elevadas para tarefas simples que podem ser exercidas sem formação profissional.
Para trabalhar nos sectores de produção, como a agricultura e indústria, não é necessário que o operário tenha 10ª Classe, exigir esse nível de escolaridade-infelizmente é o que se verifica- a uma população sem muitas habilidades literárias é uma sobrecarga que faz com que o país não avance. Para o desenvolvimento económico é necessário pôr muitos a trabalhar, não há dinheiro sem trabalho.
Na maioria dos anúncios de vagas, para tarefas simples, exigem-se habilidades literárias elevadas e muitos anos de experiência, o que não é adequado à nossa realidade. Além da exigência de níveis de escolaridade, a exigência de domínios linguísticos como o português e o inglês também constituem uma barreira.
Deveria se estabelecer que, as empresas, não coloquem requisitos que possam ser uma barreira para a maioria, principalmente quando a tarefa pode ser exercida sem muitas habilidades literárias. Há muito tempo que se trabalha e nem sempre os estudos foram tão necessários.
As habilidades literárias e a formação profissional são muito importantes, mas não vamos ficar parados por conta disso, é necessário arranjar um sistema adequado. Por exemplo, antigamente, na Europa, com a ausência de formação profissional, o sistema de tarefas, principalmente nas industrias, era rotineiro. O trabalhador era dado uma tarefa específica e, por tanto fazer aquilo, ganhava rotina.
3. Contracção de dívidas para ter dinheiro em vez de trabalhar para ter dinheiro
Devido ao facto de o governo Moçambicano imitar outros países, para solucionar seus problemas, principalmente o desemprego, acaba contraindo dívidas no exterior que no final têm efeitos prejudiciais ao gerar dependência em relação aos credores. Contrair dívidas não é muito necessário para o avanço económico. O que precisamos é de trabalhar para ter dinheiro, não de dinheiro para trabalhar.
Tal como disse no primeiro item, com as condições e habilidades que possuímos, podemos estabelecer tarefas e sistemas adequados para acabar com a escassez.
Moçambique tem produtos que podem ser vendidos no exterior, portanto, a solução seria nos focarmos na produção e transformação massivas desses produtos com os meios que estão à nossa disposição.

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